terça-feira, 25 de maio de 2010

um pedaço dela

Dormir?não.ela não dormia.ela semi-morria por algumas horas.porque durante seu sono ela não sonhava;ela não pensava;ela respirava.sim,ela respirava.essa era a diferença dela para um morto.ela não ouvia,não sentia enquanto tinha seus olhos fechados.Ela abriu os olhos,não queria,voltar a consciência,e voltar a vida.
Nublado em vários tons de cinzas diferentes,com pouco branco e pouca luz,o céu era ela por dentro.Isso a fez se sentir melhor,pelo menos o céu a entendia.
Levantou.Foi tentar tirar a melancolia do corpo,esperançosa de que saísse junto ao suor com a água quente na redonda louça branca que a acomodava como nada mais ultimamente.talvez como sua cama e o edredom.
Entregou-se à água em busca.de quê?nem ela sabe,mas buscava na água.não queria pensar,decidiu tentar voltar ao estado mórbido que estava em sua cama.Não conseguiu,estava viva demais para voltar ao seu estado inicial.Desistiu.Secou-se,pôs o primeiro tecido confortável que viu pela frente,vestiu-se de alguma coisa preta(ver do lado de fora o que sente por dentro sempre a deixava mais confortável).Foi para a aula observar o céu da janela.Nada a fazia prestar atenção,a não ser o único que se sentia como ela naquele dia.ela decidiu ouvir música alta.o som em seu ouvido a desnorteava.Isso era bom.ela estava em estado de dormência graças a música,toda ela por dentro.Músicas.Elas a entendiam também.diziam o que ela sentia.a batida alta em seu ouvido transpunha a revolta,os gritos eram seus medos e a letra mostrava ao mundo alguém como ela.
De olhos abertos cheios de cinza,refletindo a imagem que ela via,refletindo sua alma.de ouvidos-portas que enchiam seu corpo de compreensão musical.Ela sentia-se com o bastante para amenizar o que vinha de dentro,pelo menos até voltar a seu bom estado de bem-estar-semi-morto.
Quando pode retornar a seu lar e ninguém estava mais por perto,ela chorou.Era tão entorpecente deixar a água cair de seus olhos,levando um pouco da dor.O medo ainda estava ali.Como?O medo dela não ligava para a dor,não era apegado a ela.Não importava a ele que ela estivesse escorrendo na água.Ela pedia pra que ele se importasse e decidisse segui-la.Mas ele não queria saber,gostava do conforto dali de dentro.Nada o fazia sair dali.No máximo,permitir ser deixado de lado e nocauteado pelo som alto que entrava dos ouvidos.
Depois que toda a água acabou,a dor ainda existia dentro dela.Menor,por ora,até ganhar motivos para crescer de novo.Mera ilusão acreditar que toda a água que escorria pudesse fazer a dor não voltar.
Ela sentiu um toque suave em sua face -não percebeu que deixou a porta entreaberta- olhou para cima,conseguiu reconhecer aquele toque,que há tanto não sentia.Ao olhar naqueles olhos afáveis e cheios de um amor que pertencia a ela,recordou-se do motivo pelo qual continuava viva e lembrou o que era sorrir,o que era felicidade.Ela achou ali o que havia procurado na água,e entorpecido a falta na música.
Ela achou ele,ela achou o amor que estava adormecido nela,que tinha sido coberto por seu medo e a dor.
Ela voltou a dormir,a sonhar,a sorrir, a ter vida.Ela voltou a ser dele.

Escrito por:Ana Paula Omar

2 comentários:

  1. Irmããã, que lindo cara, você e esses seus textos MARAVILHOSOS. parabéns xx
    beijooos

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  2. É tão bonito e acaba bem.
    Eu sempre sorrio quando passo por aqui.

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